História

Não podemos precisar o momento em que o Eneagrama teve origem, contudo os fragmentos conhecidos reportam-nos aproximadamente ao ano de 2.500 A.C.. Podemos assim, com alguma certeza, afirmar que o Eneagrama é uma sabedoria com pelo menos 4.500 anos, o que, pela sua idade e ao chegar aos nossos dias com a vitalidade com que chega, se percebe que é uma sabedoria consistente, pois nenhum sistema que não seja consistente, por mais bem estruturado que seja, resiste através dos tempos.

Os fragmentos mais antigos que são conhecidos levam-nos até à Babilónia, toda a zona da Mesopotâmia, Suméria – ao “Berço da civilização”. Tanto quanto se sabe, terá sido nesta região do mundo, há aproximadamente 4.500 anos, que esta sabedoria começou a ser transmitida oralmente. Nesta altura, o símbolo do eneagrama era constituído apenas por um triângulo equilátero, figura geométrica muito importante nas trilogias das divindades religiosas, como por exemplo para o catolicismo o Pai, o Filho e os Espírito Santo, para o Budismo Buda, Dharma e Shangha, para o Hinduísmo Brahama, Shiva e Vishnu, e também para o Taoísmo e Cabala. A importância do triângulo equilátero pode também ser observada na forma geométrica das faces das pirâmides e mesmo na nota de um dólar (americano), o qual tem inscrito o olho, o olho que tudo vê, simbologia característica atribuída a algumas sociedades e comunidades secretas como os Illuminati.

O Símbolo, tal como hoje o conhecemos, teve o contributo de Pitágoras (500 a.c.), na Grécia Antiga, através da matemática e de influência de Zoroastro. O símbolo actual do eneagrama pode ser encontrado no nono de “dez selos de Pitágoras” e representaria o mais alto nível de desenvolvimento que a humanidade pode alcançar. Este conhecimento terá chegado até Pitágoras, importado para a Grécia Antiga, através dos “Padres do Deserto”, um grupo de Padres, em particular por António de Alexandria (egípcio), seguido por outros interessados na busca da verdade interior. Um desses Padres do deserto, Evagrius Ponticus (345-399), teólogo grego, registou pela primeira vez as suas ideias através da escrita. Ele destaca-se ao apresentar um símbolo idêntico ao actual símbolo do eneagrama e “oito pensamentos maus”, que dariam origem aos sete pecados mortais. Foi ele que também registou informação sobre a dinâmica entre os tipos. Estes Padres do Deserto acabam por abandonar as Montanhas de onde hoje é o Afeganistão, deixando este conhecimento como herança aos sufis, ramo místico do islamismo qua assume na Jihad a “guerra santa contra o ego”.

O Eneagrama chega ao Ocidente trazido por George Ivanovich Gurdjieff, arménio nascido em 1866, na região onde hoje é a Geórgia, filho de mãe grega e pai arménio, que foi um pioneiro na adaptação dos ensinamentos espirituais do Oriente para uso dos ocidentais contemporâneos. Com amigos cria um grupo denominado “Buscadores da Verdade”, partindo cada um deles para várias regiões, começam a estudar diversas aprendizagens e sistemas de pensamento. Através desse estudo, Gurdjieff é levado a procurar uma sociedade secreta, os Sarmuni, que supostamente eram detentores de um conhecimento muito avançado e ao que se suponha viveriam nas montanhas onde hoje é o Afeganistão e Turquia. É aí que Gurdjieff terá encontrado o símbolo do eneagrama e, quando volta à Rússia, começa a ensiná-lo aos seus discípulos, mantendo a tradição oral. É um desses discípulos, P. D. Ouspenky, que no final das sessões transcreveu algumas notas de memória, difundindo-as e validando-as com os restantes colegas, o que acabariam mais tarde traduzidas em livro (In Search of the Miraculous: Fragments of an Unknowing Teaching (Harcourt, Brace World 1949)). Com a Revolução Bolchevique, Gurdjieff instala-se em Paris, onde fundou a sua escola.

Oscar Ichazo, boliviano, ao viajar para o Médio Oriente à procura de conhecimentos perdidos, conhece o eneagrama e, no início dos anos cinquenta do século passado, descodifica as teorias de Gurdjieff relacionando os números do eneagrama com os tipos da personalidade, baseando-se também nos ensinamentos de Freud e Jung, desenvolvendo assim o “Eneagrama da Personalidade”. De regresso ao ocidente, instala-se em Arica, Chile, e em 1970 organiza um estágio onde junta investigadores de todo o mundo. Na sequência deste grupo, Ichazo viria a fundar o Instituto Arica de Nova Iorque.

De entre os muitos participantes em Arica, fez parte do grupo Claudio Naranjo, psiquiatra chileno radicado nos Estados Unidos, onde leccionava na Universidade de Berkeley e que veio a dar um contributo significativo ao estudo e divulgação do Eneagrama da PersonaliClaudio Naranjodade. Um dos contributos foi a animação de dois grupos (1971 e 1973) a que chamou “Perscrutadores da Verdade” (SAT – Seekers after Truth) e onde Naranjo vem juntar a sabedoria do eneagrama às síndromas da psicologia e psiquiatria. A acompanhar Naranjo, foi a Arica o padre jesuíta Bob Ochs que iniciou a divulgação do Eneagrama na comunidade jesuíta e três dos seus alunos, sob grande polémica, acabam por editar em 1984 o primeiro livro sobre o Eneagrama da Personalidade, quebrando definitivamente a tradição narrativa como transmissão e divulgação do eneagrama.

Noa últimos 30 anos têm sido vários os autores e personalidades que têm dado contributos significativos para que a sabedoria do eneagrama chegue a todos, sem que a sua essência se desvirtue. Entre eles salienta-se Helen Palmer e David Daniel, fundadores da Escola da Tradição Narrativa, a qual seguimos na transmissão e “Trabalho” com o eneagrama.

O Eneagrama chegou já às organizações, sendo cerca de noventa as multinacionais que assumem usar o eneagrama como ferramenta de desenvolvimento pessoal e organizacional, assim como alguns organismos estatais nos Estados Unidos e Israel.

No ensino, o eneagrama é já tido como uma matéria de relevante interesse na formação dos jovens, fazendo parte de planos curriculares de algumas universidades como Universidade da Califórnia, Berkeley, Harvard, Howard, Georgetown, Stanford, Columbia Business School nos Estados Unidos, Estácio de Sá no Brasil, entre outras.

Em Portugal, são já algumas dezenas as organizações que adoptaram o eneagrama como ferramenta de organização e gestão de equipas e processos assim como existem já abordagens no ensino superior, nomeadamente na Universidade Lusófona e Instituto Politécnico de Leiria.